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Invisivelmente inteira

Invisivelmente inteira
Melissa Rasera
set. 21 - 5 min de leitura
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 Publicado no meu perfil do LinkedIn em 19 de agosto 2020.

Isso pode ser a resenha de um livro, uma análise da vida ou ensaio literário. Ainda não decidi. O ponto importante desse texto é, leia "O Lado Invisível da Economia" de Katrine Marçal. 

Pronto, agora se você não quiser mais ler meu texto, tá tudo bem. Mas se você continuar comigo, se prepare, porque tudo que escreverei é uma forma de tentar expressar o turbilhão de reflexões que se formaram em minha cabeça e que ainda estou digerindo.  

Vou começar pelo começo, neste livro a autora apresenta um relato breve da história da economia mundial, do conceito "homem-econômico" e a importância do papel da mulher ao longo dessa história, e como, infelizmente,  sempre fomos ignoradas pelos especialistas como personagem primordial para o desenvolvimento social e econômico da sociedade. 

É impossível não cair na discussão do espaço da mulher no mercado de trabalho, dos gaps de salários, da necessidade de se provar, das cobranças sobre como se portar, das jornadas duplas, triplas, etc. Esse é um elefante não está só na sala, ele já destruiu a sala e a casa toda. 

O que mais me chamou a atenção no livro foram as reflexões sobre a dificuldade da mulher em simplesmente ser. Perdemos parte de nossas vidas discutindo dilemas: carreira x filhos, ter ou não ter filhos, casar ou não casar. Outra parte, perdemos tentando provar aos outros aquilo que temos plena certeza – que somos muito competentes.  Muitas vezes, neste caso, a única solução é colocar o "pau na mesa", mas em uma passagem, Katrine cita o seguinte:  

"(...) A feminista Naomi Wolf escreve que fracassamos em dar às nossas filhas uma definição de sucesso que simplesmente as deixe ser quem são. Faça mais! Faça melhor! Vença a competição! O homem econômico se tornou o ideal que ela é  forçada a alcançar. De acordo com o Ocidente, a liberação feminina se tornou uma série de tarefas a executar, uma lista de aspirações para 'fazer acontecer'. Devia, em vez disso, ter significado uma proliferação de todo tipo de liberdade. Incluindo a liberdade de simplesmente ser. Você não precisa ter o maior pau do prédio. Não há problema em não ter pau nenhum – mesmo que você seja uma mulher." 

E é isso mesmo. Não quero colocar o pau na mesa, afinal não tenho. Quero garantir que minha opinião seja considerada e avaliada como é feito com aqueles que tem órgão em questão. E muito menos quero uma atitude condescendente, aceitando o que digo para manter o politicamente correto ativo.  

Há um tempo, uma amiga fez uma postagem que me fez refletir sobre os percalços que já vivi. Agora, a pandemia e o livro da Katrine trouxeram novamente essas reflexões à tona.  

Somos julgadas pelo tipo do parto, pela profissão, pelo ritmo do trabalho, por receber pensão, por não ir atrás da pensão quando o pai não paga, por viajar a trabalho, por viajar sozinha, por não viajar, por namorar, por não namorar, por nos cuidarmos, por não nos cuidarmos, por ser independente demais, por depender demais... E com tudo isso acaba sendo inevitável você se julgar também. Será que devo aceitar o emprego, será que devo viajar, eu sou independente não preciso do pai, vou para a balada ou não, apresento esse crush pro meu filho, entro ou não entro no Tinder? Um desequilíbrio constante.  

Essa amiga aí que citei é foda. Posso dizer para você olhar o currículo dela, no LinkedIn, procurar os vídeos de suas participações em palestras diversas, ou o blog que ela conta dos quase 100 países que já visitou. Ou talvez recomendaria  o Instagram dela, porque lá você vai ver tudo isso junto a realidade diária de ser mãe, mulher e provedora da casa.  Mas o melhor mesmo seria sentar pra tomar um vinho e bater um papo com ela e entender que nenhum desses papéis sobrepõe ou impede o outro de se realizar.  

Não sei ainda se tenho um ponto com todo esse texto, mas quero mostrar que limpar a casa é tão importante quanto uma reunião estratégica. Que não lavar a louça na hora não irá destruir o caráter do meu filho, e que me orgulho muito da minha independência "assustadora". No fundo, eu quero a autonomia de simplesmente ser.  

Que deixemos de ser um lado invisível para a economia! Afinal, não somos um lado de nada, somos a base de tudo.  

"Você procurou uma flor e encontrou uma fruta. Você procurou um riacho e achou um oceano. Você procurou uma mulher e encontrou uma alma - está decepcionado." 

Edith Södergran, citada por Katrine Marçal 


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